Fiódor Dostoiévski · Literatura Russa

Os Irmãos Karamázov

O que dizer de um livro perfeito? Leiam-no.

Fiodor Dostoievki é um dos meus escritores preferidos. Já li seis das suas obras (“Noites Brancas”; “O Jogador”; “Memórias do Subsolo”; “O Eterno Marido”; “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamázov”), e quanto mais leio, mais se consolida como um dos meus autores de cabeceira.

A presente história tem início com Fiodor Karamázov, um homem bruto, rude e sem maneiras, que gosta de beber e de dinheiro. Os dois casamentos que faz são por interesse e, apesar de as esposas terem falecido desgostosas e de morte natural, deixam-lhe três filhos: a primeira, Dmitri, e a segunda, Ivan e Aleksei. Fiodor não se interessa por nenhum deles, ficando as crianças à mercê de empregados e familiares. Mais tarde, quando os rapazes se tornam adultos e voltam a contactar o pai, vemos que os seus caminhos tomaram rumos muito diferentes: Dmitri é um pândego, sendo o mais parecido com Fiodor; Ivan é o típico intelectual do Iluminismo, rejeitando Deus e a moralidade; e Aleksei torna-se monge num mosteiro. A relação entre os irmãos é geralmente pacifica, o grande problema que eles têm é com o pai, Fiodor Karamázov. E é a partir daqui que a narrativa se desenrola.

Adorei este livro. É longo, intenso, complexo, repetitivo, filosófico. É uma leitura árdua e exigente, mas muito compensadora. Dostoievski sabe como ninguém chegar às profundezas do pensamento e da alma, fazendo-nos questionar a condição humana e, no seu caso, as características psicológicas. E, apesar de eu continuar a preferir “Crime e Castigo” (cujo final me emocionou profundamente), não posso deixar de recomendar “Os Irmãos Karamázov”. Uma história que fica para sempre connosco.

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Crime e Castigo

Aviso: Este texto contém spoilers.

Este foi o terceiro livro de Dostoievski que li, após Noites Brancas e O Jogador. Crime e Castigo é considerado uma das suas obras-primas e não é dificil perceber porquê.

De leitura obrigatória no 8º ano da escolaridade russa, Crime e Castigo (1866), de Fiodor Dostoievki, decorre na cidade de São Petersburgo e conta a história de Raskolnikov, um estudante pobre e desmotivado que penhora tudo o que possui a uma velha prestamista maldosa e mal encarada, de forma a conseguir subsistir. Raskolnikov sente tal aversão pela mulher que planeia assassiná-la com a “desculpa” de que está a fazer um favor à Humanidade e que as pessoas “extraordinárias” que cometem crimes, como ele, fazem-no por um bem maior e não devem, por isso, ser punidas. Quando finalmente se decide, Raskolnikov vai a casa da velha e mata-a com um machado. O que não espera é que a irmã desta apareça nesse preciso momento, passando pela porta que o jovem acidentalmente deixara aberta, o que fará com que ele a tenha de matar também.

Estes dois crimes pesarão na consciência de Raskolnikov ao longo do livro, e o jovem apenas confia o seu segredo a Sónia, uma prostituta de tenra idade que acaba de perder o pai alcoólico num acidente de carruagem e se vê obrigada a sustentar deste modo o resto da família. Contudo, e apesar de o chefe da polícia desconfiar sempre de que Raskolnikov é o autor do crime, e de Svidrigailov (vilão que acaba por se redimir) também o ter descoberto, o jovem estudante acaba por confessar o que fez e é punido com oito anos de trabalhos forçados na Sibéria. Sónia acompanha-o por vontade própria e espera que este cumpra a pena para poderem ficar juntos. No final, após um longo período sem ver a amada por motivo de doença, Raskolnikov senta-se a seu lado, poisa a cabeça no seu colo e chora desalmadamente, arrependendo-se assim do crime hediondo que cometeu.

Crime e Castigo é um daqueles clássicos que não nos sai da cabeça depois de o lermos. Dostoievski tem uma forma muito peculiar de expor a problemática da história, apresentando pontos de vista diferentes de modo a que o leitor consiga pensar por si sobre eles e chegar às suas próprias conclusões. Claro que neste caso estamos a falar de crime: será que pode ser cometido por um bem maior? Será que devemos ter compaixão do assassino? Será que compensa? Todas estas questões nos são apresentadas de vários prismas através das personagens que encontramos.

O que Dostoievski acha necessário mostrar é que um crime pesa sempre na consciência de quem o comete e acaba inevitavelmente por ser descoberto, sendo os seus efeitos trágicos tanto a nível psicológico como físico não só para o autor, como para as pessoas que o rodeiam. Creio que é por isso que os alunos russos de 14, 15 anos têm de estudar a obra na escola, para se aperceberem de que, afinal de contas, o crime não compensa. Recomendo vivamente.

P.S.: Eu já tive a felicidade de visitar a casa de Dostoievski em São Petersburgo. Podem ver as fotografias na secção Casa de Escritores.

Casas de Escritores · Fiódor Dostoiévski

Casa Museu Fiódor Dostoiévski

Em 2012 tive a felicidade de visitar São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia. A ex-capital do país tem muitos pontos de interesse como, por exemplo, o Museu Hermitage, o rio Neva, a Catedral do Sangue Derramado ou a Avenida Nevski. No entanto, como admiradora incondicional de Dostoiévski, também quis conhecer a antiga casa do escritor que hoje é um museu aberto ao público.

Localizada num canto entre as ruas Kuznechny 5/2 e Dostoevskogo Ulitsa, o apartamento reconstruido e mobilado de acordo com as recordações da segunda mulher do autor e de amigos próximos, foi a casa de Dostoiévski durante dois períodos da sua vida. O primeiro em 1846, no início da sua carreira, e o segundo desde o final de 1878 até à sua morte. Terá sido aqui que Dostoiévski escreveu Os Demónios (1871) e Os Irmãos Karamazov (1880).

A casa está muito bem conservada e exibe objectos pessoais como cigarros, móveis, pratos, papéis, brinquedos e até um chapéu. Gostei muito de conhecer este espaço intimo de Dostoievski e da sua família, recomendando, claro está, uma visita ao local a todos os amantes dos seus livros. A sinalizar o museu está uma estátua em homenagem ao escritor na rua que também tem o seu nome.

 

 

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