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Anne’s House of Dreams

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Quando era pequena via muitos desenhos animados na televisão: Kissyfur, Pif e Hercule, Inspector Gadget, As mulherzinhas, Zorro, A Floresta Verde, Joaninha, Bocas, e, é claro, Ana dos Cabelos Ruivos.

Só relativamente mais tarde é que descobri que a série animada Ana dos Cabelos Ruivos era uma adaptação de uma série de literatura juvenil da autora canadiana, Lucy M. Montgomery. O primeiro livro, Ana dos Cabelos Ruivos (1908), está traduzido em português, os restantes não.

Esta série acompanha a vida de Anne Shirley, uma orfã de 10 anos que é enviada por engano para casa dos irmãos Marilla e Mathew Cuthbert e que acaba por ficar devido à sua atitude positiva perante a vida e ao seu bom coração. Anne mostra um grande potencial e os irmãos, já com alguma idade, incentivam-na a frequentar a escola para a jovem conseguir ter um futuro melhor do que aquele que em princípio lhe está reservado. A partir daqui seguimos toda a vida de Anne até aos seus 50 anos.

Não direi muito mais para não estragar os livros, mas refiro que neste em particular, Anne´s House of Dreams (1917), Anne está a iniciar o seu percurso de jovem mulher adulta. Pelo caminho vive coisas boas e más, e perde e ganha amizades e amores. A sua atitude perante tudo o que lhe ocorre é fascinante e, apesar de mais madura, conserva sempre o positivismo, a bondade e a inteligência a que nos tem habituado. É um autêntico prazer fazer parte do seu mundo. Quando terminamos o livro ficamos com a sensação de que se a nossa realidade tivesse mais pessoas como Anne, seríamos todos um pouco mais felizes.

Já li os primeiros quatro livros da série e lerei certamente os quatro que faltam. Visito esta história adorável uma vez por ano, normalmente no verão, e espero voltar a fazê-lo em 2021. É a leitura perfeita para quando queremos submergir em algo bonito que nos transporte para um “mundo ideal” no qual muitos de nós, eu incluída, não nos importaríamos de viver. Recomendo.

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Os livros que li em 2019

2019 foi um ano muito atípico para mim, tanto em termos de leitura como em termos pessoais. Engravidei em janeiro e, devido aos fortes enjoos por que passei, fui forçada a parar a obra que estava a ler nesse momento, A Cabana do Pai Tomás (1852), de Harriet Beecher Stowe, e a estar três meses sem ler um único livro.

A leitura fez-me muita falta e, quando finalmente comecei a recuperar o meu “eu” habitual, não soube por onde recomeçar. Não fui capaz de retomar A Cabana do Pai Tomás porque me nauseava, por isso, decidi recomeçar por livros mais leves e de não ficção. Após este reinício, consegui então voltar às grandes obras de literatura de que tanto gosto.

No total li 32 livros, o que não foi mau tendo em conta os três meses de interregno. 6 deles alcançaram a categoria dos Favoritos e 3 a das Menções Honrosas. Falarei destes nove livros num futuro post. A maioria das obras lidas foram clássicos. Gostei muito de descobrir novos autores como Daphne du Maurier, Emile Zola, Graham Greene, John Williams, Truman Capote, Arthur Conan Doyle, as irmãs Brontë e o português Júlio Dinis. Continuarei certamente a ler obras suas.

Eis a lista completa dos livros que li (por ordem de leitura):

  • Rebecca (Daphne du Maurier)
  • The diary of a bookseller (Shaun Bythell)
  • O Jogador (Fiodor Dostoievski)
  • O Livro de Ouro das Raparigas Prendadas (Sarah Vine e Rosemary Davidson)
  • Lessons from Madame Chic (Jennifer L. Scott)
  • Polish Your Poise with Madame Chic (Jennifer L. Scott)
  • At Home with Madame Chic (Jennifer L. Scott)
  • Never Let Me Go (Kazuo Ishiguro)
  • Anne of Avonlea (L. M. Montgomery)
  • Pais à maneira dinamarquesa (Jessica Alexander e Iben Sandalh)
  • Amor e Amizade (Jane Austen)
  • A Morte de Lorde Edgware (Agatha Christie)
  • Matilda (Roald Dahl)
  • O Leopardo (G. Tomasi di Lampedusa)
  • O Paraíso das Damas (Emile Zola)
  • As mentiras da cosmética (Beatrice Mautino)
  • Parisian Chic (Inès de la Fressange)
  • Comment je m’habille aujourd’hui? (Inès de la Fressange)
  • A Morgadinha dos Canaviais (Júlio Dinis)
  • O Hobbit (J. R. R. Tolkien)
  • Os Primeiros Casos de Poirot (Agatha Christie)
  • Crime e Castigo (Fiodor Dostoievski)
  • Circe (Madeline Miller)
  • O Terceiro Homem (Graham Greene)
  • O Monte dos Vendavais (Emily Brontë)
  • Agnes Grey (Anne Brontë)
  • A Inquilina de Wildfell Hall (Anne Brontë)
  • O Professor (Charlotte Brontë)
  • Shirley (Charlotte Brontë)
  • Departamento de Especulações (Jenny Offill)
  • Stoner (John Williams)
  • O Signo dos Quatro (Sir Arthur Conan Doyle)
  • Breakfast at Tiffany’s (Truman Capote)

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Balanço de leitura 2016

2016 foi um ótimo ano, principalmente no que respeita a livros. Não me impus nenhuma meta porque não acredito na leitura por lazer como uma obrigação, leio porque me dá prazer e porque quero. Ainda assim, gosto de ir melhorando os meus hábitos de leitura e de acabar o ano com um maior número de livros lidos do que no ano anterior. Foi exatamente o que aconteceu. Em 2015 li 23 livros e em 2016 li 45. Não podia estar mais satisfeita.

No início do ano passado decidi que queria ultrapassar os 23 livros que li em 2015 e empenhar-me mais na leitura. Comecei com um clássico que sempre quis ler: E Tudo o Vento Levou. Como é um livro extenso demorei três meses a lê-lo, e pensei que as minhas expectativas de ler mais livros em 2016 estavam goradas. Escolhi, então, ler obras um pouco mais curtas para me motivar a ler mais. Resultou. O meu gosto pelos livros e o “BookTube” deram-me o empurrão que eu precisava para me concentrar na leitura. Acabei por ter um ano muito produtivo, em que a diversidade foi o ponto alto.

Lista de livros lidos (por ordem de leitura):

E Tudo o Vento Levou, Margaret Mitchell
3 contos de Hans C. Andersen (A Pequena Sereia, A Rainha das Neves, A Vendedora de Fósforos)
O Principe e o Pobre, Mark Twain
Paris, Julien Green
O mapa e o território, Michel Houllebecq
Divórcio em Buda, Sandor Marai
Flush – Uma Biografia, Virginia Woolf
Bom-dia, Meia-Noite, Jean Rhys
O Livro da Selva, Rudyard Kipling
O Caso do Segredo da Enteada, Erle Stanley Gardner
A Lebre de Vatanen, Arto Paasilinna
A honra perdida de Katharina Blum, Heinrich Boll
A familia dos Mumins, Tove Jansson
O último dia de um condenado, Victor Hugo
O espião que veio do frio, John Le Carré
O falecido Mattia Pascal, Luigi Pirandello
Peter Pan, J. M. Barrie
A verdade sobre o caso Harry Quebert, Joel Dicker
Dubliners, James Joyce
O Mundo Em Que Vivi, Ilse Losa
O Vento nos Salgueiros, Kenneth Graham
They Do It With Mirrors, Agatha Christie
Animal Farm, George Orwell
The Lost Symbol, Dan Brown
Wonder, R. J. Palacio
Anna dos Cabelos Ruivos, Lucy Maud Montgomery
A herança de Eszter, Sandor Marai
A familia de Pascual Duarte, Camilo José Cela
As mais belas fábulas africanas, vários autores
As duas irmãs, Agatha Christie
As crónicas de Fernão Lopes, Fernão Lopes
As desventuras do Sr. Pinfold, Evelyn Waugh
Washington Square, Henry James
The Pearl, John Steinbeck
As aventuras de Ton Sawyer, Mark Twain
As aventuras de Huckleberry Finn, Mark Twain
A tarde de um escritor, Peter Handke
The Invisible Man, H. G. Wells
O cometa dos Mumins, Tove Jansson
The Catcher in the Rye, J. D. Salinger
The Big Four, Agatha Christie
A joia das sete estrelas, Bram Stoker
Merry Christmas, Louisa May Alcott
The Nutcracker, E. T. A. Hoffman
A Festa de Halloween, Agatha Christie

Os autores mais lidos foram: Agatha Christie (como não podia deixar de ser), Mark Twain, Sandor Marai e Tove Jansson.

Os livros de que mais gostei foram: E Tudo o Vento Levou; Bom-dia, Meia-Noite; O espião que veio do frio; O mundo em que vivi; Animal Farm; Wonder; Anna dos cabelos ruivos; The Catcher in the Rye; The Big Four.

Os livros de que menos gostei foram: O Livro da Selva; O Vento nos Salgueiros; The Lost Symbol; A joia das sete estrelas; The Nutcracker.

Surpresa do Ano: The Catcher in the Rye. Foi o livro que este ano mais me marcou. Descobrir Salinger e a sua obra-prima foi um dos pontos altos do meu ano literário. Fiquei com muita vontade de ler as suas restantes obras.

Desilusão do Ano: The Lost Symbol. O pior livro do ano. Não teve ponta por onde se lhe pegasse. Uma boa ideia muito mal executada.

Conclusão: 2016 foi um ótimo ano de leituras. Nem todos os livros referidos têm crítica aqui no blogue, mas terão, pois planeio escrever sobre eles assim que puder. Também pretendo manter ou ultrapassar o número de livros lidos. Seria espetacular ler mais de 45 livros em 2017. Por vezes não depende só de mim, mas vou tentar, tenho as prateleiras cheias de excelentes propostas. Todas as segundas-feiras há novo artigo aqui no blogue.

Desejo-vos um ótimo 2017, cheio de ótimas leituras!

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Feliz Natal!

Feliz natal a todos!

Espero que tenham passado uma ótima quadra junto dos que mais gostam e com muitos livros no sapatinho!

Por cá, também recebi algumas leituras. Uns quantos livros de Agatha Christie que ainda não tinha, o Fates and Furies, de Lauren Groff, e um guia de episódios das séries de desenhos animados He-man e She-ra (que achei muito cool!).

No entanto, escrevo este post para vos falar de dois livros que li, antecipando-me ao Natal: A Merry Christmas, de Louisa May Alcott e O Quebra-nozes, de E. T. A. Hoffman.

A Merry Christmas

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Louisa May Alcott é sobretudo conhecida pela sua maravilhosa obra As Mulherzinhas. Porém, é também autora de alguns contos de Natal que foram agora compilados pela Penguin numa bonita edição especial. Estas histórias são muito parecidas com o seu livro principal. Falam de crianças ou jovens pobres que gostariam de ter um Natal quentinho ou de pessoas mais velhas que gostariam de o passar em família. Os valores que defende são sempre os mesmos: amizade, amor, gratidão, bondade, generosidade. Por vezes confesso que é um pouco cansativo ler sempre sobre as mesmas coisas, mas a verdade é que os seus finais são tão reconfortantes que nos enchem a alma. Não há dúvida de que Louisa May Alcott era uma defensora da paz e do bem, apregoando-os nos seus textos. A sensação que por vezes dá é a de nos querer mostrar que estes valores compensam e superam quaisquer outros. Gostei muito e recomendo vivamente.

O Quebra-nozes 

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Gosto muito de ballet e não há melhor época para assistir a um belo bailado do que o Natal. Por ter visto O Quebra-nozes diversas vezes, e inclusive ter tido uma cassette de desenhos animados com a história da peça, decidi comprar o livro para ler a versão original. Os primeiros capítulos são interessantes, dando um mote empolgante à narrativa e prometendo ação, contudo, confesso que o meio me custou um pouco a ler por ser repetitivo e não fazer grande sentido. Não há dúvida de que E. T. A. Hoffman escreve bem, porém, a linha condutora da sua narrativa é confusa e pouco explicativa. As personagens passam de uma situação para a outra num abrir e fechar de olhos, e os motivos por que o fazem não são claros para o leitor. Fora isso, trata-se de uma história bonita com a magia do Natal que creio ser mais indicada para crianças do que para adultos. Quem gosta do bailado é capaz de gostar dela também.

Uma nota especial para a coleção Penguin Christmas Classics. Seis clássicos natalícios com capas a condizer, a mesma fonte, notas biográficas e separadores com desenhos. Podem ser comprados separadamente ou todos juntos com caixa arquivadora. Este ano li estes dois e para o ano que vem espero ler os outros quatro. Recomendo. Dá gosto comprar livros assim.

Literatura Juvenil

As mais belas fábulas africanas

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Tento ler o mais diversamente possível. As minhas preferidas são as literaturas britânica e americana, mas também tento ler portuguesa, espanhola, italiana, francesa, escandinava, russa, latina-americana. Da africana conheço pouco, aliás, o único livro que li foi Things Fall Apart, de Chinua Achebe, uma bela resposta à obra de Conrad, O Coração das Trevas. Logo, quando vi à venda As mais belas fábulas africanas, com prefácio de Nelson Mandela, não só achei que era uma excelente iniciativa da Nuvem de Letras, como a comprei.

Esta obra é uma compilação de fábulas de vários países africanos registas normalmente por professores, tradutores e escritores ocidentais que passaram algum tempo nesses lugares e quiseram pôr por escrito um valioso património oral que não queriam ver perdido. Segundo o prefácio de Nelson Mandela, muitas destas histórias são contadas às crianças africanas, como são contados os contos de fadas aos meninos ocidentais. Servem não só para estimular a sua imaginação e intensificar o sentimento de pertença, como também para servir de exemplo e fazer com que elas sejam capazes de distinguir o Bem e o Mal.

Confesso que algumas das fábulas são particularmente violentas, sem uma moral que valide o que referi acima, porém, a maior parte delas fala de valores partilhados universalmente como o amor, a amizade, o valor da vida e da morte. Duas das características mais vincadas nestas fábulas são o papel da mulher, que normalmente está associado à procriação e submissão perante um homem, e a superação ou sobrevivência que em África parece particularmente importante, seja através da força ou da inteligência.

Gostei deste livro. Não posso dizer que seja o meu preferido em termos de fábulas ou contos, mas é uma boa leitura para quem deseja conhecer mais um pouco da cultura africana e saber que histórias as crianças deste maravilhoso continente aprendem.

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Anne dos Cabelos Ruivos

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Anne dos Cabelos Ruivos (1908) foi o último livro que li nas férias de Verão. Com este livrinho que me trouxe muitas recordações de infância, consegui cumprir o desafio a que me propus.

Há precisamente um ano, encontrei no Youtube um video de uma das minhas séries infantis preferidas: Ana dos Cabelos Ruivos. Fiquei novamente viciada e vi toda a primeira temporada. No entanto, fiquei surpreendida ao saber que a série se tratava da adaptação literária de uma série para crianças da escritora Lucy Maud Montgomery. Como gosto muito da história, pensei comprar a obra em inglês, mas, como estava a tentar não comprar mais livros e ler os que já tenho, pus a ideia de parte. Passados alguns meses, ao passear pela Fnac, dei de caras com a mais recente tradução do livro em português e não hesitei, comprei-o logo.

O livro narra a história da órfã Anne Shirley, uma menina que é levada para Green Gables por engano, mas que acaba por conquistar toda a gente com a sua grande imaginação e coração enorme. Anne consegue fazer o seu caminho como uma criança normal, ajuda em casa, vai à escola e integra-se bem na sociedade que a rodeia.

Cada livro da série corresponde a uma etapa da vida de Anne, o que significa que a menina chega até nós com 11 anos e continua na nossa companhia até à idade adulta. Esta característica é uma das razões pelas quais desejo prosseguir com a leitura dos livros, a minha curiosidade para saber como será a vida de Anne ficou bastante aguçada.

Gostei muito de Anne dos Cabelos Ruivos. O que mais me chamou a atenção foi a não tradução dos nomes das personagens, como acontece na série televisiva (já que o título foi aproveitado), e o facto de esta estar magnífica. É inevitável que um leitor que tenha visto a série pense nela ao ler o livro. Contudo, este pormenor não tira o encanto à leitura da obra original que permanece um clássico infantil incontestável. Recomendo vivamente.

Anne dos Cabelos Ruivos

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A Família dos Mumins

 

Como sabem, por vezes gosto de ler literatura infanto-juvenil. Acho que é para “recuperar” algum tempo perdido da infância e também por mera curiosidade, pois as crianças e os jovens de hoje em dia têm tanta oferta que ocasionalmente fazem ciúmes aos adultos. Desta vez, o livro escolhido foi um clássico da literatura finlandesa: A Família dos Mumins, de Tove Jansson.
Sempre senti um grande fascínio pela Escandinávia. Já conheço todas as suas capitais e um dos meus sonhos é conhecer outras cidades mais desconhecidas, porém igualmente interessantes. Após uma viagem de trabalho à Finlândia, o meu marido trouxe-me um peluche deveras engraçado que eu nunca tinha visto: um Mumin. Disse-me que se tratam de personagens muito famosas e apreciadas pelas crianças escandinavas e que se encontram em todas as livrarias e lojas de brinquedos. Fiquei contente por aprender um pouco mais sobre a cultura finlandesa e, alguns anos após este episódio, quando vi na minha livraria local as edições portuguesas de A Família dos Mumins fiquei agradavelmente surpreendida e, claro, tive de as comprar.
A Família dos Mumins conta as peripécias de uma família de Mumins e respetivos amigos, que vivem num universo fantástico criado para satisfazer o imaginário infantil. As suas aventuras, apesar de um pouco estranhas, são uma homenagem às brincadeiras das próprias crianças, incutindo-lhes ao mesmo tempo valores importantes como a amizade, o amor, o respeito e o instinto de sobrevivência. São histórias diferentes das dos restantes livros para crianças tradicionais, o que faz com que a leitura se torne uma experiência diferente para adultos e miúdos.

Recomendo vivamente estas obras a todos os graúdos que as queiram ler e especialmente às mães e pais que gostam de ler com os filhos. As obras estão repletas de ilustrações divertidas, feitas pela própria autora, e as edições da Relógio D’ Água são muito bonitas.

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Peter Pan

Quando eu era pequena, o filme da Disney Peter Pan era um dos meus preferidos. Adorava a personagem Wendy, que achava muito bonita e madura para a idade, e as peripécias do Capitão Gancho com Mr. Smee e o crocodilo. 
Peter Pan ou o rapaz que não queria crescer, de J. M. Barrie, começou por ser uma peça de teatro, adaptada a romance pelo próprio Barrie, seis anos depois, com o nome de Peter Pan e Wendy. A personagem de Peter Pan terá sido inspirada em David, irmão do escritor que morreu enquanto fazia esqui um dia antes de cumprir os 14 anos. Barrie e a mãe sempre se recordaram dele enquanto criança pelo que Peter Pan ganhou a alcunha de rapaz que nunca cresceu. 
Na história, Peter Pan terá cerca de 11, 12 anos e fugiu de casa quando bebé para não crescer. Levou consigo os Meninos Perdidos, de quem é lider, um grupo de crianças abandonadas pelos pais após terem “caído dos carrinhos de bebé”. Peter expulsa-os da Terra do Nunca assim que eles começam a crescer, pelo que o grupo nunca é o mesmo. Na ilha, também vivem os peles vermelhas, as fadas, os piratas e os animais selvagens. A fada mais famosa é Sininho, companheira de Peter Pan, e o capitão dos piratas é Gancho, o arqui-inimigo de Peter. O rapaz cortou-lhe a mão direita e deu-a de comer ao crocodilo, que agora deseja o resto. Ainda não conseguiu comê-lo por ser sempre denunciado pelo tique-taque de um relógio que engoliu.
O mais interessante na leitura do livro é o facto de compreendermos melhor as personagens. Na obra de Barrie, os protagonistas são muito mais profundos e intensos do que, por exemplo, nas adaptações cinematográficas da Disney. Peter Pan é um menino imaturo e convencido, que não sente grande empatia pelos outros. O Capitão Gancho e os pitaras são pessoas cruéis que matam sem dó nem piedade. Wendy tem um papel preponderante, pois serve de elo de ligação entre o mundo real e o imaginário, estando sempre consciente de onde veio e de quem é, e incentivando os Meninos Perdidos a saírem da ilha e a terem uma mãe e uma vida normal. Aliás, nesta obra, as mulheres, principalmente Wendy e a mãe, Mrs. Darling, são retratadas como a voz da razão e da responsabilidade. É com elas e por causa delas que a história se resolve e todos têm um final feliz. Também é curioso que, no final, Peter regresse sempre para levar para a Terra do Nunca as filhas e nunca os filhos. Nenhuma das personagens masculinas tem boa reputação. Nem Mr. Darling, que acaba por ser apresentado como alguém snob e demasiado preocupado com a opinião dos outros.
Gostei muito deste livro. Barrie compreende perfeitamente as crianças e o mundo infantil, e consegue expô-los de uma forma divertida e direta que reflete a admiração que sentia pela família Llewelyn Davies, inspiração da sua obra. Apesar de ser, por vezes, um pouco violento, Peter Pan é um livro juvenil original e engraçado. Recomendo.
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O Príncipe e o Pobre


Este foi o segundo livro que li de Mark Twain, depois de A Viagem dos Inocentes. Não desapontou e até foi engraçado. 
O Príncipe e o Pobre conta a história de duas crianças parecidas como gostas de água, o príncipe herdeiro ao trono inglês, Eduardo, e um rapaz pobre de Offal Court chamado Tom Canty. Desde que o Padre Andrews começou a ensinar Tom a ler e a escrever que a admiração do menino pela monarquia aumentou, talvez para fugir à sua própria realidade miserável. Certo dia, após brincar aos reis, o seu jogo preferido, Tom dirigiu-se ao Pálacio de Westmisnter onde, por acaso, viu o verdadeiro Príncipe Eduardo a ter uma aula de esgrima. Espantado por ver um membro da realeza, Tom acaba por se juntar demasiado ao gradeamento do palácio e é agredido por um guarda. Depois de ver a cena, Eduardo repreende fortemente o vigia e convida Tom a entrar para comer e descansar. Já nos aposentos reais, os dois rapazes reparam em como são parecidos e, por brincadeira, decidem trocar de roupa. Nesse momento, Eduardo, vestido como um maltrapilho, desce até ao gradeamento para, mais uma vez, repreender o guarda, contudo, este não o reconhece e acaba por expulsá-lo do Palácio sob os risos de uma multidão enorme. É aqui que começa a aventura. 
A escrita de Mark Twain, apesar de um pouco datada, é simples e cativante. Percebe-se que a sua ideia de trocar de lugar dois meninos com destinos tão diferentes o divertiu imenso e lhe deu a oportunidade de criticar a corte inglesa e algumas das suas leis desumanas e incompreensíveis. Ao mesmo tempo, recuperou uma personagem histórica, Eduardo VI, que apesar de ser filho e irmão de dois dos maiores monarcas ingleses, Enrique VIII e Isabel I, respetivamente, passou completamente despercebido na História por ter sido coroado aos nove anos de idade e por ter morrido aos quinze. Twain valeu-se deste facto para fazer dele uma personagem fictícia que aprende a viver como os seus súbditos e que precisamente por isso, acaba por se tornar um rei demasiado bondoso e brando (o completo oposto do que foi na realidade o seu reinado, governado pelo Concelho de Regência devido à menoridade do rei). 
Este clássico, tantas vezes adaptado ao cinema, é um livro muito bonito que certamente encantará miúdos e graúdos. Recomendo. 
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Flor de Mel

Quando eu era adolescente, a minha escritora preferida era a Alice Vieira. Li muitos dos seus livros: Rosa, minha irmã Rosa, Lote 12 – 2º FrenteChocolate à Chuva, Flor de MelSe perguntarem por mim digam que voei
Uma das características que eu mais gostava nos romances de Alice Vieira era o facto de serem quase todos tristes e introspectivos. Normalmente, as personagens principais eram sempre raparigas (crianças ou adolescentes) que se viam numa situação familiar anormal que as obrigava a refletir sobre si próprias e sobre o mundo em seu redor. 
Flor de Mel (1986) não é exceção. Melinda, a rapariga desta história, é uma criança sem mãe que vive temporariamente na casa de uma ama porque o pai não tem condições de tê-la consigo. Ansiosa por ter uma vida estável como as outras crianças, a menina relata aos amigos a história fantástica que a avó Rosário lhe contou sobre a mãe ser rainha do palácio das Dioneias e estar, nesse momento, presa numa gruta guardada por piratas, razão pela qual não pode ir ter com a filha. Vivendo de casa em casa e atravessando provações e adversidades sem perder a esperança de um dia ter uma vida melhor, Melinda acaba por receber a visita do pai que, consigo, traz uma grande revelação.
O nono romance de Alice Vieira é dos mais curtos e, à primeira leitura, poderá não ser dos mais fáceis. De todas as obras que li esta foi das que mais atenção me exigiu na sua interpretação. Contudo, após tê-la compreendido, foi também das mais bonitas e satisfatórias. O livro está incluido no PNL do 5º ano, embora eu ache que seria mais adequado ao público adolescente precisamente por causa da interpretação que, para crianças de 10 anos, poderá não ser a mais óbvia. Seja como for, creio que se trata de uma narrativa filosófica forte que aporta consigo um final inesperado e significativo. Recomendo.