Literatura Norte-Americana

O Despertar

Devorei “O Despertar” (1899), de Kate Chopin, numa tarde. Há muito tempo que um livro não me agarrava desta forma.

A primeira vez que ouvi falar de “O Despertar” foi num antigo livro de cabeceira que tenho sobre as grandes heroínas da literatura. Ao lado de nomes como Madame Bovary, Ana dos cabelos ruivos, Jane Eyre ou Anna Karenina, encontrava-se o de Edna Pontellier, protagonista de um romance que na sua época provocou escândalo e do qual eu nunca ouvira falar. Decidi então que tinha de o ler e encontrei-o, por acaso, a preço de saldo numa velha edição da Relógio d’Água na Feira do Livro.

Edna é uma jovem mulher casada e com dois filhos que vive em Nova Orleães. Apesar de ter um casamento satisfatório, uma posição social que lhe permite completo desafogo económico e uma vida social interessante, Edna não se sente feliz porque a sua natureza livre e independente não se coaduna com as convenções que, na viragem do século, vingavam no sul dos Estados Unidos. Durante umas férias de verão junto ao mar, Edna conhece um jovem e os dois apaixonam-se.

Gostei muito deste livro, contudo, devo dizer que me recordou a história de “Madame Bovary” (1856), de Flaubert. Não nos podemos esquecer que a segunda metade do século XIX teve a figura feminina e os seus despertares como uma das temáticas mais importantes e em voga, como tive oportunidade de referir acima. O que é espantoso neste caso, foi o facto de este livro em particular ter sido escrito por uma mulher.

A escrita de Kate Chopin é clara, simples e prende-nos desde a primeira página. O seu ritmo é idóneo, o ambiente da história está muito bem elaborado e as personagens são vivas e bem construídas. Todavia, o melhor é o final. Apesar de não ser inteiramente original é o desenlace perfeito para a coerência que Edna apresenta ao longo do livro. Recomendo.